Dr. Marco Antonio Calil de Assumpção
Médico Urologista | CRM-SP-94.728
Como tudo começou:
A história do Novembro Azul teve início na Austrália em 2003, quando um grupo de quatro amigos, em um momento de curtição, tiveram a ideia de realizar uma campanha de arrecadação para a mãe de um amigo deles que estava com câncer de mama.
A ideia consistia em deixar o bigode crescer e a partir disso arrecadar recursos para o tratamento de câncer. O desafio chamou a atenção de outras pessoas e viralizou. Na data de aniversário de um dos responsáveis, anunciaram o vencedor do maior bigode e conseguiram atingir alguns valores que contribuíram para o objetivo inicial.
Por conta da pronúncia da palavra bigode em inglês, mustache, o evento ficou conhecido como Movember. No ano seguinte, em 2004, o desafio voltou a tomar corpo e alcançaram mais participantes para o desafio. Ao todo, conseguiram obter o valor de 54 mil dólares.
O desafio, feito todos os anos desde então, no mesmo mês, ajudou a arrecadar milhões de dólares, que foram destinados a diversos projetos de saúde, saúde masculina, câncer e saúde mental.
A proposta da campanha chegou ao Brasil apenas em 2008 pelo Instituto Lado a Lado Pela Vida, uma associação social que trata de causas contra o câncer, doenças cardiovasculares e a saúde do homem.
Nesse mesmo ano, em parceria com a Sociedade Brasileira de Urologia, fizeram a primeira campanha de conscientização ao combate ao câncer de próstata que ganhou o nome de “talk one brief”, com a intenção de quebrar o tabu do toque retal.
E assim, o mês de novembro ficou conhecido como Novembro Azul com o objetivo de conscientizar sobre a doença do câncer de próstata.
Para saber um pouco sobre a doença e como ela ocorre, o doutor urologista Marco Antonio Calil de Assumpção explica um pouco a respeito.
A doença:
Em relação à mulher, o homem apresenta uma estimativa de vida de 7 anos a menos. E as primeiras causas de morte masculina são doenças cardiovasculares, infartos e AVCs. Em segundo lugar estão os cânceres, conhecidos também como neoplasias.
O recomendado pelos médicos urologistas é começar a fazer os exames necessários a partir dos 45 ou 50 anos. Caso tenha no histórico familiar tenha pessoas com câncer, se inicia aos 45 anos.
A questão da cor da pele também influencia para iniciar a frequentar o médico. A pessoa negra tem maiores tendências a obter o câncer de próstata, além de ser mais violento. A obesidade é outro agente que ajuda a agravar o câncer de próstata.
A falta de prioridade com a saúde, o preconceito e a questão da cultura são os principais fatores que contribuem para a estimativa de vida ser menor do que a da mulher.
“Eles não sabem como vai ser o exame, se vai sentir dor, eles conhecem como TR, então é um exame que é muito rápido, indolor, não precisa de nenhum tipo de preparo, então eu acho que é mais isso, o preconceito é maior, o desconhecimento, a falta de cultura mesmo é o que não leva o homem a procurar um urologista.”, relata o médico urologista Marco Antonio Calil de Assumpção.
A pessoa normal que não apresenta nenhuma patologia da próstata e outras doenças, o exame é recomendado uma vez ao ano. Aos que estão em tratamento de uma doença da próstata, é necessário repetir a cada 4 meses.
“Uma estatística interessante é que ao longo da vida do homem, um em cada 7 homens terão a doença. Então a cada 8 minutos, isso é uma estatística brasileira, um homem é diagnosticado com câncer de próstata e a cada 40 minutos morre um homem com câncer de próstata. E é interessante porque é um dos cânceres mais curáveis, mas tem tudo isso.”, fala o doutor Calil.
Como a doença se inicia?
O câncer é uma anomalia das células da próstata que se formam diferentes das células originais e crescem de maneira desordenada, em casos mais avançados gera metástases.
O tumor é uma doença da idade, causada pelo envelhecimento masculino. Contudo, o câncer não é o único problema que pode ser gerado na próstata:
- Prostatite: inflamação da próstata;
- Hiperplasia prostática benigna: crescimento benigno.
Sintomas:
Na fase inicial, o câncer de próstata não apresenta sintomas. Mas na fase intermediária, o paciente pode apresentar dificuldade para urinar, o jato da urina fica mais fraco, pode acordar várias vezes à noite para ir ao banheiro e sangue na urina ou no esperma.
Estágios mais avançados da doença o paciente começa a sentir dores ósseas, por causa das metástases que se espalham pelo corpo e os principais sítios onde se instalam são os ossos.
Prevenção:
“Não tem uma prevenção específica como algumas doenças têm essas prevenções primárias, na qual você pode adotar algumas ações que podem evitar exposição. Um exemplo é a gripe, um resfriado, você tem uma prevenção primária, você tem uma vacina, você evita locais mais fechados. O câncer de próstata não tem, ele tem uma prevenção secundária que essas sim é onde a gente consegue atuar, que essa é a avaliação do urologista e periódicas com exames.”, informa o doutor Calil.
Os exames necessários são os exames de PSA (antígeno prostático específico – exame de sangue) e o toque retal. Como diagnósticos complementares têm a ultrassonografia da próstata, ressonância magnética da próstata, ou a biópsia de próstata.
A junção de todos esses exames são importantes para obter um resultado mais preciso, pois em até 20% dos PSAs normais, a pessoa pode apresentar o câncer.
Tratamentos:
A doença apresenta vários estágios: baixo risco, intermediário e alto risco. E, para cada um deles há um tratamento específico.
Para as pessoas com baixo risco possui vigilância ativa, ou seja, é necessário vigiar o paciente através de exames periódicos realizados a cada 4 meses. Por meio deles será avaliado a evolução da doença.
Não são todos os pacientes que apresentam câncer de próstata precisam ser operados ou tratados. Pacientes mais jovens têm o risco maior da doença avançar, porque quanto mais velho é o paciente, mais lento é o crescimento. O câncer depende dos hormônios da testosterona para conseguir crescer.
Mas também há tratamentos como a prostatectomia radical, a cirurgia. Ela pode ser feita por via aberta ou por videolaparoscopia, utilizando a técnica do robô assistida.
As cirurgias podem apresentar duas complicações: disfunção erétil e incontinência urinária. A próstata fica próxima aos nervos, ao retirá-la, pode comprometê-los.
“Hoje em dia há técnicas mais modernas que minimizam muito essas complicações, mas é o problema de uma cirurgia. Cada vez menos nós vemos pacientes com impotência, com incontinência e tem tratamentos para isso também. Para a impotência sexual, a gente utiliza algumas medicações logo no pós operatório para estimular a circulação de sangue no pênis”, comenta o doutor Calil.
A incontinência urinária pode ser tratada por meio da colocação de um sling, uma fita instalada ao redor do local da uretra, utilizada para perdas pequenas ou moderadas de urina. E para as perdas contínuas, tem a técnica do esfíncter artificial, que abraça o canal da uretra, controlado por um dispositivo próximo a bolsa escrotal.
“A cirurgia de prostatectomia é complicada, tanto a via aberta quanto a robô assistida, são cirurgias que duram em torno de 2 a 4 horas, numa média. Cada uma tem o seu pós operatório, a cirurgia por corte é um pós operatório um pouco mais delicada, demora alguns dias. As cirurgias feitas por vídeo tem uma recuperação rápida, a pessoa vai embora no outro dia.”, relata o doutor Calil.
A radioterapia externa é a radiação feita diretamente na bacia e na próstata, podendo queimar alguns nervos da ereção, causando a disfunção erétil. Em casos mais avançados, o tratamento é feito por hormônio, chamado de hormônio terapia, que são algumas medicações ou injeções para bloquear a produção de testosterona.
Nos casos mais agressivos é feita a quimioterapia intravenosa.
“O câncer avançado tem chances maiores de controle, mas não de cura. Com uma expectativa de vida de uns 5 anos, mas depende de cada caso e do nível de risco, após os 5 anos pode se considerar curado. Mas, mesmo em nível baixo o câncer tem chance de voltar.”, relata o doutor Calil.
Como falado anteriormente, não há prevenção primária, mas uma dieta pobre em gordura e condimentos pode ajudar a evitar um câncer futuramente, mas não tem uma dieta específica para isso.
Apesar do câncer evoluir, não há fatores externos que contribuem para isso, a única coisa que influencia no crescimento do câncer é o não tratamento.
Como o corpo se adapta após a cirurgia?
A função da próstata é a produção do sêmen, e dentro dela há o controle da urina. O órgão fica próximo aos nervos da ereção que, por conta disso, pode acabar gerando as complicações ditas anteriormente, a disfunção erétil e a incontinência urinária.
Apesar disso, o corpo se adapta bem à rotina, mas o homem não poderá ter mais ejaculação, somente a sensação.
O câncer de próstata é transmissível?
Não é transmissível, a pessoa com câncer não passa para outra pessoa. O problema está nas células da próstata que se multiplicam de forma desorganizada, não transmitindo através do sexo.
A saúde masculina precisa ser tratada e acompanhada, é preciso realizar todos os exames periodicamente para evitar qualquer risco que possa interferir em uma vida saudável.
“O urologista não cuida só disso, ele cuida da saúde do homem, então tem outras doenças, que são as infecções sexualmente transmissíveis, entre outras doenças.”, comenta o doutor Calil.