A Febre Amarela e sua transmissão

Alexandre Piva
Infectologista – CRM 56400

Durante o verão é rotineiro o aumento de casos das arboviroses (doenças transmitidas por mosquitos) como Dengue, Zika, Chikungunya e Febre Amarela.

A maior incidência da Febre Amarela ocorre entre os meses de Dezembro e Maio, devido maior volume de chuvas e atividade agrícola.

Feriados maiores como o Carnaval faz com que o Centro de Vigilância Sanitária do Estado de São Paulo emita alerta a população para o maior risco de contaminação por Febre Amarela.

Grande parte da população viaja para área de mata ou rural, realiza atividades como trilhas, passeios em cachoeiras, acampamentos.

Cidades do interior de Minas Gerais e Paraná que são divisa com o Estado de São Paulo estão em alerta.

O surgimento do primeiro caso confirmado desde 2019, na cidade de Vargem Grande do Sul, divisa com MG, em 27 de Janeiro, reforça a necessidade da vacinação. Foi em um homem de 73 anos de idade morador da zona rural da referida cidade.

A cobertura vacinal em nosso estado está baixa (64%) onde o ideal seria em torno de 95%.

Salientamos que a vacina faz parte do calendário vacinal a partir dos 9 meses de idade com administração de duas doses até os 5 anos, a partir desta idade, dose única.

Está disponível em todos os postos de saúde do Estado.

É feita com vírus atenuado cultivado em ovo de galinha, tem a segurança e eficácia de 95%. Necessita de um período de 10 dias após a aplicação para geração de anticorpos. Alguns países exigem a certificação de vacinação para permitir a entrada, uma forma de conter a circulação do vírus pelo mundo.

Não deve se vacinar:

  • Crianças com idade inferior a 9 meses
  • Pessoas com alergia grave ao ovo
  • Pessoas que vivem com HIV e com contagem de células CD4 menor que 350
  • Mulheres amamentando crianças menores de 6 meses
  • Pacientes em tratamento quimio e radioterápico
  • Portadores de doenças autoimunes
  • Pessoas em tratamento com imunossupressores (que reduz anticorpos)

Relembrando, a Febre Amarela é uma doença infecciosa febril aguda, transmitida ao homem mediante picada de insetos hematófagos (que se alimentam de sangue) cuja gravidade varia de branda até uma forma grave que levar ao óbito(50% dos casos). Não há transmissão de pessoa para pessoa.

O agente é o vírus amarílico, gênero Flavivírus, família Flaviridae.

Os mosquitos responsáveis pela Febre Amarela são o Sabethes e o Haemagogus sendo este último o principal no ciclo silvestre, zonas de mata.

Felizmente não tivemos casos do ciclo urbano onde o mosquito é o Aedes Aegypti, o mesmo da Dengue.

O quadro clínico é variável podendo se apresentar de forma leve (80-90% dos casos), moderada e grave.

Chamamos de doença bifásica pois se inicia com febre súbita e calafrios, dor epigástrica, vômitos, mialgia. No 2º dia a temperatura sobe, aumenta a prostração. 3º e 4º dia pode haver uma melhora geral no quadro ou evoluir para formas mais graves, febre alta, dor epigástrica com vômitos sanguinolentos, a icterícia se torna mais acentuada e o paciente pode apresentar encefalopatia hepática, torpor e óbito ( 20-50% dos casos). Icterícia, hemorragias e insuficiência renal aguda constituem a tríade que prenuncia as formas graves.

Não há tratamento específico, apenas suporte aos sintomas e suporte avançado em UTI nas formas graves.

Importante ressaltar que a transmissão da Febre Amarela não tem participação direta dos macacos para seres humanos. A detecção da doença ou óbito nos macacos nos alerta para a zona de circulação do mosquito.

Compartilhe: